quinta-feira, 30 de julho de 2009

JUSTINE




JUSTINE

Aquela cadela era o cão
Quem ela pensava que era, uma dama?
Subia na minha cama como se fosse dona. Nunca uma cortesã
Mais parecia uma gata que sabe de seus direitos e a todos encanta, no salão
Olhava-me como se soubesse quem sou: o que será que ela via?
Obedecia-me. Eu era o patrão, ela a manda-chuva
Nos dias de sol: raios e trovoadas, ela só aprontando
Corria sobre o canteiro de rosas: um estrago e tanto
Subia no varal: pegadas por toda a roupa. Deixava a empregada louca
Mas era só eu falar chega, acabou, e ela ficava quietinha
Às vezes saltava sobre mim, latindo feito fera
Tomava meu pulso entre os dentes, pura ameaça, todo mundo olhando
Não era nada, uma palavra minha e acabou a brincadeira
E quando eu saía? Gemia, era patético, porque quase humano. Via-se que sofria
O focinho tremia, pequenos ganidos produzia, quase fonemas
Pode-se dizer que ela tinha a linguagem, ao menos os esforços para expressá-la
Mesmo que só nas horas de intensidade emocional
(sua vantagem sobre certos humanos: não falava o tempo todo, à toa)
Ao lado da mesa ficava, sempre, à espera de migalhas, restos da refeição
Não que estivesse faminta, tinha a sua ração
Para se sentir parte da família, em comunhão
Um dia a perdi. Ganhei um luto que jamais tirei, por dentro
Vista azul, amarelo ou branco
É sempre preto

Ana Guimarães

sábado, 25 de julho de 2009

A QUEDA


De Lúcifer à maçã de Newton
tudo cai
mas também se levanta
a ressurreição é líquida
e certa
(não fosse a vida um riverrum)
circularidade é a regra
morte e despertar
fin
e
wake:
em filhos
árvores
e livros
o que foi um dia
é
real e sonho
real é o sonho
Ana Guimarães

domingo, 12 de julho de 2009

AMOR À LÍNGUA



Eu a amo tanto que
às vezes, me espanto
fico muda, de respeito

como a verdade
ela jamais se desnuda
toda

com agulhas de dor
e fios de ausência
teço seu enxoval

embora não seja parteira (e sim curiosa)
cuido que renasça
sempre

parto a palavra e embarco
sem medo de que alguém (ela ou eu)
seja náufrago, vá à pique

porque partida, ela é mais inteira
escrita, mais próxima da falha do que falada
vazia, plena de possíveis sentidos
solta, prende e apreende melhor
a coisa

nessa alquimia verbal
não procuro nem acho, transmuto
abro caminhos
e invento meu ponto de estofo
gozo inter-dito

Ana Guimarães



segunda-feira, 6 de julho de 2009

CRÔNICAS DE VIAGEM


Tenho a grata satisfação de comunicar que minhas recentes crônicas de viagem intituladas Europa, Primavera 2009, saíram - todas! - publicadas no novo número da Germina revista de literatura e arte, vejam aqui:

http://germinaliteratura.com.br/2009/cronica_jun2009_anaguimaraes.htm

quarta-feira, 1 de julho de 2009

LITERATURA-SERTÃO


É com imenso prazer que comunico minha estréia na Revista Diversos Afins, com o texto LITERATURA-SERTÃO: