terça-feira, 22 de junho de 2010

ADIÇÃO




Todos os excessos são condenáveis, até mesmo os da abstinência (Voltaire)

Seus companheiros
de ilusão
quem são?

Com o que combate
o horror à solidão
e tenta esquecer
que não tem mais sonhos?

Como lidar com o real
cada vez mais
avassalador?

Ao mal estar
você soma
a dependência
a algum paraíso artificial?

Crê precisar
de subterfúgios
para criar?

Só assim
as portas da percepção vão se abrir
céu e inferno
se intercambiar?

O que a literatura pode
(meio ou fim)
significar?

De que modo atravessa
o crespo do seu sertão
esse deserto da alma:
o liso do Sussuarão?

Se embriaga
se entorpece
quando não consegue
dizer não?

Que veredas percorre
em busca da fantasia
de completude?

Diga-me onde te abasteces
e dir-te-ei
quem não és

Na boca de fumo?
Num Mc da vida? (a droga do junkie food)
Na farmácia?
No botequim?

O que o ajuda a encarar
a falta, o excesso
o lusco-fusco da alma
seu Diadorim?

Tal linha de fuga
que prazeres
proporciona?

Estados alterados lhe dão (ou tiram)
vontade de que?
Que tonalidades o mundo perde
ou adquire?

E depois, o que suas sábias vísceras
denunciam?
Espasmos de culpa ou remorso
revém?


Ana Guimarães