domingo, 19 de julho de 2015

GABRIEL

GABRIEL

Quando criança
eu tive uma tartaruga
chamada Turiga
Agora, enquanto a família viaja
fico com Gabriel
o peixe do meu neto Felipe

Turiga morava
na área de serviço
mas sempre que podia eu a soltava
para que ela conhecesse
outros mares, terras, ares
não ficasse aborrecida

Mas não posso fazer o mesmo
com o Gabriel, senão ele morre
Que vida mais sem graça
preso nessa água
a girar pra lá e pra cá
a comer e dormir

O que será que peixe pensa, sente
além de saber que a comida vai chegar
(ele sobe à superfície assim que a ração 
aparece, ainda na minha mão)
Porque, acreditem,
o bichinho deu para me encarar

É só do aquário eu me aproximar
que ele vem e me olha de frente
por muito tempo
- olhar de planície -
feitos os peixões
lá do Oceanário de Lisboa

Terá pena de mim
da minha  suposta liberdade
das opções que me possuem
da ansiedade que me assalta
do vazio que me preenche
da morte que me espera?

Se eu o levasse
à porta de algum rio ou oceano
e o soltasse
o que lhe aconteceria
será que por fim ele conheceria
a inquietude humana?

Pergunto a ele todo dia
se já se acostumou com a nova casa
se sente saudade do dono
Você tem fome de que, Gabriel
ou simplesmente se contenta
em contemplar o mundo?

Ana Guimarães