Todos os excessos são condenáveis, até mesmo os da abstinência (Voltaire)
Seus companheiros
de ilusão
quem são?
Com o que combate
o horror à solidão
e tenta esquecer
que não tem mais sonhos?
Como lidar com o real
cada vez mais
avassalador?
Ao mal estar
você soma
a dependência
a algum paraíso artificial?
Crê precisar
de subterfúgios
para criar?
Só assim
as portas da percepção vão se abrir
céu e inferno
se intercambiar?
O que a literatura pode
(meio ou fim)
significar?
De que modo atravessa
o crespo do seu sertão
esse deserto da alma:
o liso do Sussuarão?
Se embriaga
se entorpece
quando não consegue
dizer não?
Que veredas percorre
em busca da fantasia
de completude?
Diga-me onde te abasteces
e dir-te-ei
quem não és
Na boca de fumo?
Num Mc da vida? (a droga do junkie food)
Na farmácia?
No botequim?
O que o ajuda a encarar
a falta, o excesso
o lusco-fusco da alma
seu Diadorim?
Tal linha de fuga
que prazeres
proporciona?
Estados alterados lhe dão (ou tiram)
vontade de que?
Que tonalidades o mundo perde
ou adquire?
E depois, o que suas sábias vísceras
denunciam?
Espasmos de culpa ou remorso
revém?
Ana Guimarães
"Eis-me sentado à beira do tempo
ResponderExcluirOlhando o meu esqueleto
Que me olha recém-nascido."
O meu paraíso é o passar do tempo. Canso de olhar, de perceber, de fixar os olhos até a visão ser extraviada. De repente uma faísca, uma lasca na vista, uma raiva incontida, uma injustiça, uma distribuição mal feita, acende e ascende em palavras.
Muitas vezes gostaria de escrever mais, e mais depressa. Espasmos de culpa e remorso me invadem e aguardo. Se é subtração não sei, mas não consigo adição. Beijos e obrigado.
Ana adorei o poema..para mexer com a gente mesmo!!!abraços.Ana
ResponderExcluirAna,
ResponderExcluirA porção que satisfaz não é a mesma para todos, embora possa ser comum a alguns.
Enquanto letra, sou adição.
Somemos!
Beijos
Ana, gostei do enfoque. Tenho uma série de poemas que entendi nominar de "limites e outros exageros". Nem lá, nem cá, não? Abraços, Pedro.
ResponderExcluirGostei muitíssimo do Poema, porque nele cumpre (meio e fim) a natureza que nunca lhe é estranha: a da questinação (e são fundas e apontam para camadas de sentido riquíssimas) as questões que este poema nos põe e, em sincronia, a ironia, a critica subtil e veemente que nos interpela e nos convoca ao pensamento.
ResponderExcluirgrato pela partilha
luís filipe pereira
Vou para o fim de semana com muitas perguntas... não sei se me faltarão palavras ou se venho com um monte delas....
ResponderExcluirBeijocas
Graça
Gostei imensamente dos seus comentários, indispensáveis para que persista nessa caminhada.
ResponderExcluirAbraços!
Ola, bom final de final de semana e uma ótima semana ANA
ResponderExcluirQue poetar hem!
Ainda bem que há alguém continua ouvindo as perguntas que a vida faz.
Continuemos a interrogar-nos.
Beijos
Salete
Ana querida
ResponderExcluirUm poema que requer uma leitura lúdica e questionadora; não requer respostas rápidas embora altamente reveladoras.
adorei!!
beijos
Rose
Olá Ana, que ba-ra-to!!! [rs]
ResponderExcluirSensacional!!! Questionar é preciso...Sempre.
Pelo licença para acrescentar uma pergunta: "qual linha de fuga pode-se utilizar em relação ao "tinitus"? [rs] Está um horror, depois que cheguei de viagem.
Um beijo e Bravooooo!!!!
Com conta, peso e medida... nem sempre conseguimos e ainda bem... mais longe vamos... mais procuramos... e acrescentamos à nossa caminhada!
ResponderExcluir1 Bj*
Luísa
Salete, Rose, Lau e Luísa: perdão pela demora, muitíssimo obrigada pela leitura e comentários.
ResponderExcluirPS Lau: minha linha de fuga para aturar o tinitus (e evitar o desencadear da síndrome de Menière) tem sido, por recomendação médica (consulte o seu otorrino), 3 gotas de rivotril à noite, antes de dormir.
Um grande abraço, amigos!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA adicção é uma "praga" cada vez mais flagrante, não só nas grandes cidades.
ResponderExcluirAlgo, no obscuro da mente, nos leva a estes comportamentos de compulsão, uma ordem pré-estabelecida, um script delineado, como se um ditador interno habitasse nos confins subterrâneos da mente.
É dá-lhe "pedra", loló, birita, jogo e sexo compulsivos e tantas outras formas de mascarar a ansiedade.
É um terreno movediço para a poeta e psicanalista.
Mas vale trilhá-lo e orientar que caiu nas armadilhas de Maya.
Beijão.
Ricardo Mainieri
Obrigada, Ricardo, por mais essa interlocução - só vi o comentário agora. Creio que o denominador comum de toda e qualquer adição seja a ansiedade - em excesso, porque na medida certa ela é mola propulsora de tudo.
ResponderExcluirBeijo
Ana, enquanto lia seu poema imaginei que você pensava o seguinte: abastecer-se de livros seria a melhor opção - rsrsrs.
ResponderExcluirBeijos, com carinho, Madalena.
P.S. "Em ambos os ofícios o que importa é a verdade da fantasia." Ana, quando li essas palavrinhas, dei um sorriso espontâneo - e até a Bruxauva saltou de dentro do blog.
Madalena! Sempre bem-vinda! Acertou na minha "adição": livros!!! (Embora nos últimos tempos, a síndrome de Menière tenha me obrigado a depender de algumas drogas)
ResponderExcluirA verdade da fantasia é tudo! Já leu Vilém Flusser?
Beijos