Cada morte que canta
é um espanto
como se não soubéssemos
o que nos espera
essa “colheita comum
do capinar sozinho”
Fáustico é o esforço
para enfrentar os próprios crespos
organizar o caos
atravessar o inferno
exorcizar o diabo (o outro)
no meio do redemoinho
Tudo para evitar
o lugar
cheio de noite e silêncio
Para esquecer
ou tentar adiar
a hora derradeira
Mas o nada
independente do pacto
sempre chega
* referência a uma citação recorrente no filme de David Lynch, Cidade dos Sonhos
Ana Guimarães
domingo, 25 de julho de 2010
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Eu sei o que é capinar sozinho Ana! Muito bom!
ResponderExcluirGenial, Ana, como sempre. Faço coro com o seu leitor Menezes. Como "capino sozinha"...você nem imagina.
ResponderExcluirUm beijo
E.T. Espero e torço que tudo já esteja bem. Um beijo pra você,para o príncipe e, em especial,para a filha. Melhoras pra ela.
Obrigada pela visita e pelo carinho.
Aninha, querida. Este poema me tocou muito. Acho que ninguém pode sentir-se alheio a ele. Pode, quando muito, passar por cima como se houvesse uma ponte sobre um campo que nos entristece e que nos mostra a realidade.
ResponderExcluirCapinar sozinho... Cada vez mais estamos nessa.
Como tu estás, minha linda? Espero que tudo esteja correndo bem.
Muitas saudades.
bjos
Ana muito bom o poema...como sempre vc falando as coisas certas na hora certa....abração.
ResponderExcluir"Como se não soubéssemos o que nos espera".
ResponderExcluirO pacto sempre chega. Mas navegar é preciso.
Pra pensar e apreciar.
Abraços
Luiz Ramos
Querida Aninhas
ResponderExcluirEste é o poema da verdade...aquela verdade que muita vezes não queremos ouvir, nem ler...Será que a olvidando atrasamos a sua chegada?
Como tens passado?
Beijo
Graça
O nada sempre chega. Ao final, desde o início e pelo meio do rio vida do ser ele impera como o vazio que o Oriente nos envia.
ResponderExcluirViver em um palco cheio de luz, ouvindo a voz de um louco cheio de fúria, muitas vezes nos torna crespos e ajuda naquela ciranda sarabanda.
Alguma poesia ajuda a parar e ponderar, e quem sabe encontrando a palavra certa, como a tentativa de todo poeta, nós desapareçamos com alguma paz. Quem sabe?
Bravo, bravo. Beijos.
Voe, voe, vá além, vá muito mais além! Finque suas raízes no solo da iluminação para adentrar a roda dos sofrimentos mundanos sem se perder em seu meio. Assim, poderá entrar e sair das trevas sem ser contaminada e mais uma a ajudar em vez de ser mais uma a ser ajudada. [Arayashiki - despertar o oitavo sentido, "ir ao mundo dos mortos e voltar vivo"]
ResponderExcluirVida e morte representam uma dinâmica de paradoxos em constantes mutações. É mister adquirir a paz em vida para que possa morrer em paz. Que nenhum cativeiroo material ou abstrato ( através da sutil dominação da subjetividade) aprisione a sacra liberdade de pensar, escolher, opinar, sejam quais forem as circunstâncias.Que o desdobramento do mistério prânico perdure ad infinitum.
bijinhos ♥
Caríssimos amigos: serei eternamente grata pela presença de vocês aqui, no meu blog, comentando os meus textos! Sejam sempre bem-vindos! Muito obrigada pelas observações, considerações, reflexões. Vocês fazem parte de um tudo que anula o nada.
ResponderExcluirGrande abraço em cada um!
Querida Ana, que alegria visitar seu blog!!
ResponderExcluirSeus poemas sempre me levam a pensar em redemoinhos profundos, em que exorcismo (claro, do "outro diabo") e despertar levam ao centro de um "nada" - local medonho, contudo, com luz silenciosa no fundo do túnel, ou será, do redemoinho?
Beijos felizes, com carinho,
Madalena
Madalena querida, que saudade dos seus sempre fecundos comentários, muito obrigada! E que foto linda, hein? Parabéns!
ResponderExcluirBeijo, minha amiga!
Ana, amiga de tempos...
ResponderExcluir... Dante(s) e depois dos teus infernos de enfrentar e vencer, há sempre tu. Querida, adimensional. Ainda tenho e conservo a minha carteirinha de fã da tua maneira de ser: o pensar e o escrever.
Beijo enorme, sempre.
RR
Quando a presença do "Nada" se faz presente em nossa vida, paramos para olhá-lo mais atentamente.
ResponderExcluirNo entanto, a morte está ocorrendo a cada dia. Células fenecem e outras nascem para recompor o equilíbrio. O orgasmo, conforme os franceses, foi apelidado de pequena morte. Ela, está, deste modo, em plena vida. Esse é o contraditório.
No entanto, penso haver algum caminho além do Nada. Não nesta forma terrena, mas de uma outra forma energética.
Como disse Drummond em um de seus poemas: o poeta deixou de tratar das coisas lindas/e começou a tratar das coisas findas.
Este é teu caso e atesta, então, a maturidade poética.
Beijão.
Ricardo Mainieri
Renato e Ricardo: uma honra tê-los por aqui, com suas generosas palavras que orgulhosamente, mas, paradoxo, com humildade, agradeço. Não sabemos o que há - se há - quando essa vida termina, por isso dou valor ao "lado de cá": amizades, por exemplo, de gente de bem como vocês.
ResponderExcluirBeijo amigo nos dois.
Querida amiga
ResponderExcluirUma verdade inquestionável! De quantos recursos necessitamos.
Assim como a poesia, uma bela poesia que versa, que transita pelas bandas onde temos dificuldades de chegar.
Parabéns
Beijos
Ah, Salete, esse que você menciona, a poesia (a arte, de um modo geral) é o melhor dos recursos, mas nem sempre conseguimos acioná-lo!
ResponderExcluirBeijos
Olá Ana!
ResponderExcluirSe não acreditarmos na ressurreição, o sentido da nossa vida não pode ser mais deprimente. E se acreditarmos que todos os esforços e todas as artes serão reduzidas a nada e a um silêncio sem memória, como se a história nunca tivesse acontecido, tudo tem um interesse imediato de mera conveniência.
Um poema perturbador que interroga directamente.
Beijo
Sua interrogação foi que me perturbou agora, Carlos, obrigada. E também, por associação, lembrei de meu velho, querido e saudoso pai: "Vamos cuidar da vida, que a morte é certa".
ResponderExcluirBeijo
Sempre há algo a se fazer em prol da Beleza, antes do Nada e depois também. Para além disso é o caráter inglório de se esperar perfeições.
ResponderExcluirBelo poema amiga Ana, belo pensar.
Beijos
Depois também? Isso é que é um belo pensar, Tere.
ResponderExcluirObrigada. Beijos