dois passos para trás
assim me (des)construo
tecendo e destecendo
a trama de minha vida
atribuindo-lhe novos significados
matizes
texturas
Penélope de mim mesma
Sigo veredas
que não levam a lugar algum
utilizo métodos
que já se mostraram improdutivos
aro terras inférteis
rego sementes que não germinam
ouço profecias (utopias)
de oráculos cegos
acredito no canto das sereias
Nada em vão, no entanto
(igual a Sócrates,
aprendendo uma ária com flauta
enquanto lhe preparavam a cicuta
Para que?
Aprendê-la antes de morrer
só isso)
Estendo a mão para um vilão
dou nova chance
ao traidor amigo
feito uma criança
que de nada desconfia
me dôo para amores
que não se concretizam
Explodo em lágrimas
após cada – previsível – perda
quando não, resignada, sorrio
mas jamais me esqueço
de retornar ao caminho
porque a verdadeira viagem
nunca é de ida
e sim de volta
como a de Ulisses
Ana Guimarães
Poema já publicado no Jornal da Poesia: http://www.revista.agulha.nom.br/anaguimaraes1.html#patchwork
e agora também em Sal da Terra Luz do Mundo, confiram: http://saldaterraluzdomundo.net/literatura_poe_patchwork.html
Uauuuu...maravilhoso poema! A vigaem é mesmo voltar...
ResponderExcluirBeijos
Maravilhoso e exato! É o que fazemos, esses repetidos gestos, voltando a um ponto.
ResponderExcluirPerfeito! Vesti a carapuça.
A mitologia pessoal se condensa na universal criando um fluxo.
ResponderExcluirQuem somos nós?
Cavaleiros lutando contra moinhos, Sísifo a observar o vaivem da pedra?
Poetas, que no fundo, são um pouco de tudo isso...
Beijão.
Ricardo Mainieri
Você escreveu como poesia, o que hoje cedo visitei como texto, ficou-me o mesmo sabor, ao terminar a sua e o dele. Posso? (...)
ResponderExcluir"...mais tarde pelo hábito que se tornou tirânico, que enquanto trabalhava na mesma empresa permanecia dia e noite no trapézio. Todas as suas necessidades, aliás bem ínfimas, eram atendidas por criados que se revezavam, vigiavam embaixo e faziam subir e descer, em recipientes construídos especificamente para esses fins, tudo o que era preciso lá em cima. Esse modo de viver não cauisava aos outros dificuldades especiais; era apenas um pouco incômodo que durante os demais números do programa ele ficasse lá no alto, o que não se podia ocultar: apesar de, nesses momentos, na maioria das vezes se conservar quieto, de quando em quando um olhar do público se desviava para ele." Franz Kafka, em Primeira dor.
Claro que a poesia é mais doce, mais candente, mas o processo (perdoe a palavra) é o mesmo.
Creio que você sabe que eu também sou seu admirador de carteirinha assinada e cadeira cativa.
Beijos.
Oi Ana, que maravilha.Lindo, Ana! Essas somos nós, as Penélopes do seculo XXI, por vezes tão incompreendidas. :) Um beijo, amiga querida.
ResponderExcluirLindo, minha querida, com os passos e repasssos, ponto aqui, ponto ali de um verdadeiro patchwwork tão colorido ( ou descolorido...) como as fases da nossa vida!
ResponderExcluirBeijo amigo
Graça
Obrigada, queridos! Continuemos o patchwork!
ResponderExcluirAna,
ResponderExcluirpermita que comece pelo fim:
«...porque a verdadeira viagem
nunca é de ida
e sim de volta
como a de Ulisses»
Tenho andado a ler sobre o mundo de Ulisses e estes seus versos apontaram-me para uma interpretação muito interessante da(s) viagen(s) dele. Enquanto muitos heróis que tinham partido na expedição contra Tróia regressaram,sem problemas, a suas casas e os reis mortos foram substituídos, a Ulisses estava reservado um outro destino: uma longa série de lutas contra feiticeiras, gigantes e ninfas, antes de encontrar a salvação e o direito de regressar a Ítaca, onde a sociedade tinha uma vida humana.
Fico extasiado com os seus textos abertos a vastas e intermináveis compreensões.
Abraço
Muito obrigada, meu querido Carlos, por sua sempre bem-vinda intervenção. A editora do Sal da Terra Luz do Mundo também se encantou com Patchwork, tanto que pediu para publicá-lo, veja o link acima.
ResponderExcluirGrande abraço!