MINHA SOMBRA E EU
Minha sombra e eu fizemos um
trato
andamos juntas
como Sócrates e seus
discípulos
nos jardins da vida
somos diferentes, é claro
sou radiante
ela é sombria
preciso da luz do dia
ela tem fronte lunar
governa-me o coração
ela, a razão
entrego o que me pedem
ela mede, pesa, avalia
meu canteiro, com belas flores
volta e meia se enche de mato,
é fato
no dela, nenhuma erva daninha
(também a terra é estéril,
nada germina)
minto, trapaceio
sou de extremos
dona sombra é um tédio,
com o seu
"a virtude está no
meio"
de qualquer barro
faço Adões e Evas
amores ou amigos
para ela tudo é escarro,
espinho
por ela viveria sozinho
quando fervendo, meu
refrigério
maníaco, meu lado sério
preparo o pulo, ela o impede
se o considera por demais
arriscado
pretendo-me eterno
ela me mostra mortal
quero saltar um abismo
e
lá vem ela com o projeto da ponte
já em algarismos
quando exijo o real
me oferece a ficção
acha que a poesia me consola
o que é verdade, pero não toda
insiste que eu me cubra
com o manto da
imaginação
mas sei que esse canto
por mais doce
é pura ilusão
por de sol algum, aqui ou ali
pintado
consegue expressar a emoção
daquela tarde
prazer que nenhum pavão
da arte
encena
Ana Guimarães
Tanto tempo sem vir a este blog, topo por mero acaso com chamada no FB. Encontro este interessante poema, que sua sombra decerto ajudou a compor. Viajei nessas incríveis possibilidades de personificação para uma sombra aqui apontadas (a minha sempre foi só sombra, nunca conseguiu nem inspirar versos, que dirá fazer cálculos). Foi bom, pra mim, ter vindo. Todos os cumprimentos, Ana.
ResponderExcluirFico feliz que vc tenha vindo e gostado, João! Obrigada.
ResponderExcluirAna