terça-feira, 23 de julho de 2019

Gradiva

GRADIVA*

Sem precisar estar em Pompéia
na cálida e sagrada hora dos espíritos
vemos seu espectro
(eu e um lagarto imaginário
que foge assustado
interrompendo o banho de sol
na escadaria)
breve aparição
borboletas-mensageiras do Hades
logo lhe chamam

resto só, diante de ruínas
externas e as minhas
a ouvir o pio sardônico de um corvo
não mais trinados de canários na gaiola
e um fiapo de razão me faz pensar:
alucinação
fantasma ao meio-dia
ou você em carne e osso?
(uma terceira via)

grito meu próprio nome
tentando acordar
desse sonho
sempre o amor como mosca
a zunir na cabeça da gente!

Gradiva sou eu, agora
aquela que avança
ainda que em direção ao passado
arqueóloga da mente
passo em revista as lembranças
na esperança
de assim continuarmos vivos
inútil paisagem
a visão real de um ramo de flores
fúnebres
logo interpreto como mau augúrio

*Uma releitura poética do estudo psicanalítico de Freud sobre a Gradiva de Jensen

Ana Guim

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