Tudo é recado. Coisas comuns comunicam, ao entendedor, revelam, dão aviso.
(Ave palavra)
Muita gente me pergunta, brincando ou a sério, se o meu sobrenome tem a ver com o do João, o Rosa. Quem dera! Nenhum parentesco, ele é apenas o meu escritor brasileiro preferido. Essa preferência se consolidou – levando-me a, após ler e reler sua obra, começar a estudá-la com os especialistas Ana Luiza Costa e Leonardo Vieira – quando li numa entrevista concedida a Günther Lorenz, a revelação de algo de que suspeitava: da “importância monstruosa, espantosa de Freud em sua pluma”. Bem que eu já observara o estranhamento que sua escrita provoca, uma certa equivocação que vem a ser o cerne da práxis analítica. O diálogo entre literatura e psicanálise que daí decorre (a dupla ressonância de uma área na outra) é objeto de teses e mais teses em todo o mundo, responsáveis pelo relançamento de questões nunca suficientemente definidas, relativas ao sujeito, sua fundação, estrutura e escrita. Ele é tão estudado porque “nele procurando, acha-se - sempre é assunto para novas interpretações, inclusive por divergir de si mesmo”, disse Cláudio Willer.
Barroco por excelência, se cultivava o excesso, entretanto, era por absoluta necessidade de maior amplitude lingüística, tendo trazido para o seu texto a riqueza de expressões populares sem ser considerado regionalista por isso. Em 1946 ele assim se explica: “A língua portuguesa está empobrecida, rígida, estratificada, falta sentido e beleza a ela. É preciso lhe dar plasticidade, refundi-la no tacho, distendê-la, trabalhá-la, dar-lhe músculos”.
Mais do que determinar um estilo e influenciar seus leitores credito ao autor a abertura de possibilidades estéticas literárias infindáveis, a liberdade para brincar com a estrutura da frase, criando uma outra articulação, sem por isso torná-la ininteligível. Tal insubmissão aos cânones estabelecidos, com suas recriações vocabulares e sintáticas, faz lembrar Joyce (meu escritor estrangeiro favorito): o mesmo limpar as palavras do senso comum, com prazer e imenso savoir-faire, o mesmo encarar a linguagem como a principal personagem (o enredo ficando sempre em segundo plano), a mesma maneira de contornar o Real, domesticando-o via neologismos. Seu método de trabalho era oposto, por exemplo, ao do Houaiss ao traduzir Ulisses, abrasileirando-o. Ao contrário, Guimarães trazia expressões idiomáticas de outras línguas para o português, e dizia que o tradutor devia mesmo “violentar a língua de chegada”.
Ao seu “As pessoas não morrem, elas ficam encantadas” respondo que encantados ficamos nós, e bem vivos, com a errância de Riobaldo em sua travessia pelo Grande Sertão: Veredas. Este é o romance da dúvida por excelência, onde as megeras cartesianas do homem dogmático são subvertidas (sinto, logo existo) e combatidas pelos freqüentes questionamentos que não findam nem na última página, como se pode constatar com o símbolo matemático de infinito que a ilustra. Inclui todo tipo de ambigüidade, inclusive a que diz respeito ao gênero (Reinaldo/Diadorim). É visível sua tentativa de apreender o não-apreensível, o que não tem contornos definidos, o chiaroscuro, o que está em eterno movimento, em construção, o ainda não nomeado: por definição, emblemático do processo analítico. Dar voz ao Outro da gente: o que não fala, o que está no limiar entre o humano e o animal, o que não tem autoridade para se expressar: o sertão, a criança, o índio, os seres da natureza, o louco. Seus arquivos revelam cadernos/cadernetas/diários de viagem, documentos inter-relacionados e verdadeiras sentinelas da memória com que ia registrando o que via para depois então escrever, apontamentos esses que evidenciam seu permanente diálogo com o mundo.
Nós que ousamos trilhar esse caminho duro e penoso (se ele que era ele guardava um texto recém-escrito por uma semana, um mês, depois o desengavetava e falava: “vamos ver por que esse conto está ruim”, e tome de corrigir!), porém inevitável, pois não sabemos como recusá-lo (falava do horror a escrever, mas não ter como escapar disso: “Um livro tem que ser escrito senão vira um trombo na veia”), assim que terminamos de lê-lo ficamos como “chuva em nuvens, dependurados no ar, para cair”, prontos para desabar nossas letras – ainda que miúdas, verdadeiras garoinhas comparadas às rosianas – na primeira página em branco que encontramos pela frente. Torcendo para ter, ao menos, um pouco do estômago de ostra que lhe atribuía Haroldo de Campos, capaz de, após tudo fagocitar, um dia produzir da irritação, da adversidade, alguma pérola, ainda que barroca.
Ana Guimarães
domingo, 7 de novembro de 2010
domingo, 31 de outubro de 2010
PARA QUE SERVE A POESIA?
A poesia é um verdadeiro alento nas horas difíceis. Tapa-buracos do real, quanto mais o sentido escapa, mais ela emerge. Na contramão do sensato, aponta o horizonte do impossível, denuncia a tentativa de sacrifício do sonho, de massacre da ilusão.
Dá força ao imaginário, até mesmo ao marginal, e serpenteia como água na infiltração, disseminando-se pelas frestas, pelos descaminhos, driblando barreiras, minando resistências, fazendo suas próprias rotas, não convencionais, subversivas.
Ensina a suportar a impotência diante do inominável. A acessar, por ondas mnêmicas, o indestrutível museu emocional que portamos. A abordar, como significa semanticamente: pelas bordas, a dor. A aproximar, por linhas de fuga, o horror.
A abandonar os remos e deixar o barco à deriva. Ficar como cata-vento, à mercê do vento. Fantasiar que estamos nadando no mar quando só estamos afogados em nossas lágrimas salgadas (grande Carroll!). Falar com bichos e pedras sem parecer louco.
A se jogar no buraco, por mais escuro e fundo que seja, Alice na toca do coelho, sem se questionar como será para voltar. E também, depois dessa queda, não ter mais medo de cair. Até porque quando se cai nada mais resta a fazer senão falar, simbolizar, metaforizar. Mesmo que com dificuldade, como reza a lenda sobre Joyce: o dia inteiro trabalhando para encontrar as palavras, só não sabia, ao final, ainda, como arranjá-las na frase.
A nos interrogarmos depois que escrevemos: será que foi o mundo que mudou ou mudei eu? Quem sou esse que escreve? Esse estranhamento.
Pois a poesia não responde, pergunta. Seria ela um corredor comprido, iluminado por uma fileira de lâmpadas? Ou a luz das lâmpadas iluminando esse corredor? Varia, depende do ângulo. Ela é a chave que não abre nenhuma porta específica, deixando a você a descoberta das saídas possíveis. Suas, particulares, subjetivas, únicas.
Semelhante aos pés distantes da Alice, pode não nos obedecer e nos levar para onde não queremos ir. Feito andar na areia da praia, deixando pegadas que o vento logo desmancha: à medida que caminhamos, mais criamos marcas e as apagamos.
Arquiteta da ponte entre as margens de um vazio e outro, tantas vezes projetada, jamais construída, tem o dom de fazer extraordinário do comum. Lápis de cor que colore o preto e branco da história, desenhando montanhas onde é só planície estéril, encantando o desencanto do mundo. O pintor é ela, somos – com muita honra e humildade – apenas seus pincéis.
Ana Guimarães
Dá força ao imaginário, até mesmo ao marginal, e serpenteia como água na infiltração, disseminando-se pelas frestas, pelos descaminhos, driblando barreiras, minando resistências, fazendo suas próprias rotas, não convencionais, subversivas.
Ensina a suportar a impotência diante do inominável. A acessar, por ondas mnêmicas, o indestrutível museu emocional que portamos. A abordar, como significa semanticamente: pelas bordas, a dor. A aproximar, por linhas de fuga, o horror.
A abandonar os remos e deixar o barco à deriva. Ficar como cata-vento, à mercê do vento. Fantasiar que estamos nadando no mar quando só estamos afogados em nossas lágrimas salgadas (grande Carroll!). Falar com bichos e pedras sem parecer louco.
A se jogar no buraco, por mais escuro e fundo que seja, Alice na toca do coelho, sem se questionar como será para voltar. E também, depois dessa queda, não ter mais medo de cair. Até porque quando se cai nada mais resta a fazer senão falar, simbolizar, metaforizar. Mesmo que com dificuldade, como reza a lenda sobre Joyce: o dia inteiro trabalhando para encontrar as palavras, só não sabia, ao final, ainda, como arranjá-las na frase.
A nos interrogarmos depois que escrevemos: será que foi o mundo que mudou ou mudei eu? Quem sou esse que escreve? Esse estranhamento.
Pois a poesia não responde, pergunta. Seria ela um corredor comprido, iluminado por uma fileira de lâmpadas? Ou a luz das lâmpadas iluminando esse corredor? Varia, depende do ângulo. Ela é a chave que não abre nenhuma porta específica, deixando a você a descoberta das saídas possíveis. Suas, particulares, subjetivas, únicas.
Semelhante aos pés distantes da Alice, pode não nos obedecer e nos levar para onde não queremos ir. Feito andar na areia da praia, deixando pegadas que o vento logo desmancha: à medida que caminhamos, mais criamos marcas e as apagamos.
Arquiteta da ponte entre as margens de um vazio e outro, tantas vezes projetada, jamais construída, tem o dom de fazer extraordinário do comum. Lápis de cor que colore o preto e branco da história, desenhando montanhas onde é só planície estéril, encantando o desencanto do mundo. O pintor é ela, somos – com muita honra e humildade – apenas seus pincéis.
Ana Guimarães
domingo, 24 de outubro de 2010
PATCHWWORK
dois passos para trás
assim me (des)construo
tecendo e destecendo
a trama de minha vida
atribuindo-lhe novos significados
matizes
texturas
Penélope de mim mesma
Sigo veredas
que não levam a lugar algum
utilizo métodos
que já se mostraram improdutivos
aro terras inférteis
rego sementes que não germinam
ouço profecias (utopias)
de oráculos cegos
acredito no canto das sereias
Nada em vão, no entanto
(igual a Sócrates,
aprendendo uma ária com flauta
enquanto lhe preparavam a cicuta
Para que?
Aprendê-la antes de morrer
só isso)
Estendo a mão para um vilão
dou nova chance
ao traidor amigo
feito uma criança
que de nada desconfia
me dôo para amores
que não se concretizam
Explodo em lágrimas
após cada – previsível – perda
quando não, resignada, sorrio
mas jamais me esqueço
de retornar ao caminho
porque a verdadeira viagem
nunca é de ida
e sim de volta
como a de Ulisses
Ana Guimarães
Poema já publicado no Jornal da Poesia: http://www.revista.agulha.nom.br/anaguimaraes1.html#patchwork
e agora também em Sal da Terra Luz do Mundo, confiram: http://saldaterraluzdomundo.net/literatura_poe_patchwork.html
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
O MEDO DA LUZ
O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê. (Platão)
Em um romance de Ítalo Calvino, Il Cavaliere inesistente, Agilulfo, uma espécie de Don Quixote, para se acalmar e não se dissolver na incerteza e no absurdo daquela época das Cruzadas dedica-se, compulsivamente, a contar objetos e a resolver problemas aritméticos, ao alvorecer. Cada um se arranja como pode. Os sintomas cumprem um papel metafórico, resta a interpretação, ou seja, a aproximação da verdade.
O passado influencia o futuro, a ponto de sobredeterminá-lo? Interessaria a alguém conseguir exterminar lembranças que permanecem intactas, com vívidas impressões sempre assombrando? Repetindo um auto-exílio, Eva parte para uma nova cidade em busca de recomeço, deixando para trás a família dividida e poucos vínculos que a distância ou a morte ainda não devastaram. Diz querer escapar de ultrajantes abandono e solidão, zerar sua vida que terá início ali e agora. Reconstruir a história, apagar da memória traições, ingratidões, a dor e a doença delas derivadas. Jogar fora o retrato e a moldura (o geográfico) que parecem aprisionar trágicas recordações.
Tal postura aliada ao hábito de idealizar relacionamentos a seqüestrará, de novo, do presente? Pois já fora assim há uma década atrás, terá esquecido? Na ocasião, fugiu de urubus que rondavam a carniça na qual se tornara logo após a separação pedida pelo marido depois de décadas de lutas, crises, mas também de cumplicidade, conquistas e filhos. Voltou da capital (local em que só fizera conhecidos, todos atrelados a circunstâncias profissionais, ligados pelo luto de seus lugares de origem) para o Rio, berço natal onde continuavam a residir parentes e velhas amigas de infância que de certo a apoiariam.
Todos esperaram que o centro espírita que resolveu freqüentar e o psiquiatra ali indicado – não os remédios com os quais passou a se encharcar – iluminassem a ponta do sentimento que a perturba. Que conseguisse, além de enxugar o vazamento, descobrir a fenda por onde a coisa passa. Escavando, fizesse o caminho contrário, criativa travessia que sempre abre janelas para outros espaços, contraditórios, contudo arejados porque construídos por palavras. Que aceitasse, enfim, como falava Cioran, sofrer as conseqüências de ser ferida pela existência. Mas ela preferiu, outra vez, a saída de emergência, a única vislumbrada no desespero: o aeroporto.
Não nos livraremos de nossos destinos e da visão de mundo congelada, pétrea, intocável que (se a) carregamos nem se mudarmos de identidade, quanto mais de endereço. E porque a vida é movimento, a inútil censura promoverá, em algum momento, o retorno do recalcado. O que parece se desconhecer é que o obstáculo para suportar o inevitável mal estar na civilização não está no quadro que cada um mostra, mas no que subtrai. Muito fica de fora, talvez o principal. A parte ignorada é infinitamente maior do que a sabida, uma zona de sombra, fronteira com o indizível.
Não são os outros que a magoaram, que a decepcionaram os responsáveis pela depressão que a consome. O que contamos de nós imputando a terceiros nosso estado, mesmo revelação fiel dos fatos, subverte a realidade. Ao invés de capturar o real, o deforma, e quase ninguém tem consciência da fraude. Repetimos ad nausean: “sou/estou assim porque minha mãe... porque meu marido... meu filho... meu chefe... o governo do meu país...”, sem conseguir focar sobre o que fizemos com o que nos fizeram. Só a partir dessa pergunta poderemos desenhar, escrever, esculpir, pintar um renascimento. Seja lá onde for.
Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz. (Platão)
Ana Guimarães
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Tinta de escrever - para Ana Guimarães (de Rose Marinho Prado)
desenho de Rose Marinho Prado
Para a Ana Guimarães
Nesse tempo, venho andando e caindo, feito todos. Numa fragilidade que confesso me apavora. Em especial, porque, ou melhor, por causa disso que eu crio - que você chama de arte.
Tão confuso conciliar cor, linha, linha aqui ou lá. E essa instância de ser que nem sempre fala alto, ou tão alto quanto eu gostaria. Sou tímida em excesso e isso é que faz contraste, confunde a mim e aos que me conhecem. Porque, os de perto, se assustam com o tanto de trapalhadas. Quem sou eu afinal?
Não é que eu deixe de arrumar o quarto - ou quintal - para rabiscar um desenho, aqui ou lá? Não é que tanto esqueço de mim, de cuidar de mim, dos medos, anseios? Alguns amigos dizem: "Chega!". E certos estão.
Porque, ainda que eu negue - e antes negava mais, acho que se lembra assim como eu, o tanto que, de longe, você me incentivou a desenhar... - é a caçada dos meus traços, a parte de mim que me importa. De mim, dos desenhos, das palavras. É custoso, mas sei que é aí que habito.
Já chutei baldes de tinta, quebrei gizes, esses com que faço os desenhos de que tanto você gosta! E acha bonitos!
E a força de que preciso, para, como professora de redação, perseguir a reta, a origem, o fim? E cumprir o tempo certo então?
(Se lhe digo a cegueira é constante? Intuo as ladeiras, às vezes, erro. De que cegueira dizer? Falta palavra. É que há um sol escuro, mas sol. Ele aposta na vida!).
Os sentimentos se enrolam, puxo daqui, de lá. E vou...E os desenhos - só agora - começam a ganhar viço, determinação. Nem sei bem se um dia junto alguns e crio uma história. Não depende de mim, mas, de alguma coisa frágil que me habita. Mas que é visível, consigo enxergar. E, justo, por não esperar mais nada e sim, fazer - por causa da força feito essa que você me transmite - é que tenho conseguido constância e aprimoramento, senão, nos traços, ao menos no bailado dos riscos para que eu consiga expressar o que nem sei.
Sim, concordo com você. Não fosse a internet, meus desenhos não seriam conhecidos por tantas pessoas! É possível que eu nem desenhasse mais. Ou escrevesse. Porque os que vivem perto nem sempre dizem: "Faça!"Eles se aborrecem com o fato de eu ser inconstante, desorganizada...e assim vai...
Descobri que desenhava aos 22 anos. E corri nessa direção. Depois vieram fatos. Até sair das armadilhas! A vida pode jogar a gente longe da gente! Pra nunca mais.
Eu tenho sorte. Em especial, de ter uma amiga feito você. Constante, direta, verdadeira. E forte! Essa sua força! Ah!
Obrigada, agradeço o Feliz Aniversário, dito assim desse jeito tão sensível. Obrigada.
Rose Marinho Prado
(Resposta a esse recado que lhe deixei no orkut ontem: "Dir-te-ei hoje - agora - e não (só) no dia do seu aniversário - as tais palavras diferentes que desejas ouvir, Rose: comemore o ser especial que você é, e agradeça, tanto quanto nós somos gratos, o fato de pertencer a uma época em que sua arte pode ser conhecida por uma enormidade de pessoas através da internet."20:53 quinta-feira, 23 de setembro de 2010)
Link para seus desenhos e textos: http://roseeseusamigos.blogspot.com/
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
PUBLICAÇÃO NO PORTAL CRONÓPIOS
Balas perdidas
(POESIA) ... Na rede estou: sou caça das palavras /que me caem em cima, matando, de vez, a coisa /passiva, pasto, passagem /garrafa ao mar, missiva /não fujo, não me escondo, deixo-me atravessar ... Ana Guimarães
http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=4732
Leiam, comentem.
(POESIA) ... Na rede estou: sou caça das palavras /que me caem em cima, matando, de vez, a coisa /passiva, pasto, passagem /garrafa ao mar, missiva /não fujo, não me escondo, deixo-me atravessar ... Ana Guimarães
http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=4732
Leiam, comentem.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
A MINHA MÃE E A DA ADÉLIA
Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento. (Adélia Prado)
Minha mãe achava sentimento a coisa mais fina do mundo.
Não é. A coisa mais fina do mundo é o estudo do sentimento.
Foi o que fiz, formalmente. É o que faço, no dia a dia.
Ficar entregue ao sentimento é ser barco à deriva.
Às vezes ele ilude, engana, até cega.
Sentimento sem razão, sem freio, sem respiração é nada.
O sentir sem se deixar parar é, existencialmente, um falso sentir.
Palavras - reflexões - urgem.
Elas orientam o sentimento, transformam-no, mudam sinais.
In-formam (gravam formas) na matéria bruta.
Ordenam o que antes era o caos.
Quem fala/escreve luta, não se entrega.
E mesmo um texto (quer dizer, um tecido) feito de linhas (fios)
é sempre inacabado: precisa de um receptor para ter significado.
Ana Guimarães
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