sábado, 30 de julho de 2011

POEMAS

FORÇA DE VONTADE

Força
se faz
para não se entregar
logo
(como o coração)
um seio
à mão
para que o aperte
muito
pouco
importa
que queira
ou não
apertá-lo
para sempre

Nesse limite
invisível
palpável
entre a intenção
e a contenção
da vontade
(pura hesitação)
vive-se

SEIS

Daria as vidas
que lhe restam
por minutos
em seus braços

Cinderela
sem queixume
à meia-noite
de volta pro borralho

Mulher-gato
retornaria, todo dia,
só pra lamber sua boca
de Batman

Cravaria o gatázio
em sua carne:
quem sabe alcançaria
um coração, no peito?

Pois quem gateia é ele
foge
negaceia
brinca de gato e rato

Diante disso
ela se contenta
em gatafunhar
seus escritos

VOCÊ E EU

não passamos
de fios
encaracolados
aos demais
não tecemos
mantas
agasalhos
sapatinhos
nem somos varais
estendidos
secando roupa
só nos enroscamos
e formamos
nós
quando muito juntos
como finos cordões
de ouro

Ana Guimarães

Já publicados aqui: http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=1842

sábado, 23 de julho de 2011

ADIÇÃO

Todos os excessos são condenáveis, até mesmo os da abstinência (Voltaire)


Seus companheiros
de ilusão
quem são?

Com o que combate
o horror à solidão
e tenta esquecer
que não tem mais sonhos?

Como lidar com o real
cada vez mais
avassalador?

Ao mal estar
você soma
a dependência
de algum paraíso artificial?

Crê precisar
de subterfúgios
para criar?

Só assim
as portas da percepção vão se abrir
céu e inferno
se intercambiar?

O que a literatura pode
(meio ou fim)
significar?

De que modo atravessa
o crespo do seu sertão
esse deserto da alma:
o liso do Sussuarão?

Se embriaga
se entorpece
quando não consegue
dizer não?

Que veredas percorre
em busca da fantasia
de completude?

Diga-me onde te abasteces
e dir-te-ei
quem não és

Na boca de fumo?
Num Mc da vida? (a droga do junkie food)
Na farmácia?
No botequim?

O que o ajuda a encarar
a falta, o excesso
o lusco-fusco da alma
seu Diadorim?

Tal linha de fuga
que prazeres
proporciona?

Estados alterados lhe dão (ou tiram)
vontade de que?
Que tonalidades o mundo perde
ou adquire?

E depois, o que suas sábias vísceras
denunciam?
Espasmos de culpa ou remorso
revém?

Ana Guimarães