terça-feira, 9 de agosto de 2011

LONDRES


LONDRES


Shakespeare, Virginia Woolf, Oscar Wilde, Lewis Carroll, Chaplin, Beatles, Fred Mercury, Mary Quant. Parodiando Woody Allen em Meia-noite em Paris, andar por Londres é esbarrar em personalidades inglesas de outras épocas sempre vivas na memória, e no final rendermos tributo ao presente ao constatarmos que a cidade que soube resistir ao tempo e preservar seu incalculável legado histórico é também uma metrópole moderna, de irresistível charme.

Heathrow é um senhor aeroporto: organização, atendimento e limpeza impecáveis. O metrô, detentor de um prêmio de design, eficiente. Os célebres ônibus de dois andares, um acontecimento (tente conseguir ficar na parte de cima, e na frente, para ter uma visão privilegiada durante os passeios). As icônicas cabines telefônicas vermelhas, agora desativadas,  só mesmo para uma foto. Os tradicionais táxis pretos ultra-espaçosos, valem uma corrida.

Com um bom mapa consegue-se caminhar sem tropeço nas ruas, mas lembre-se de que a mão é invertida, cuide de olhar nas duas direções antes de atravessar. Não deixe de conhecer a palpitante Oxford Street (com intenso comércio), as lendárias Baker Street (que abriga o museu Sherlock Holmes), Abbey Road (onde o famoso quarteto posou para a capa do penúltimo disco da banda), Trafalgar Square (a praça mais bela da city, com seus quatro imponentes leões) e Piccadilly Circus (bem no centro, rodeada de bares, restaurantes, bom comércio e teatros, o ponto mais animado da noite).

Há um lugar imperdível, programa para o dia inteiro: Portobello Road Market, um fervilhante mercado a céu aberto, cheio de brechós, antiguidades, lojas diversas, com suas casas coloridas, músicos de rua, além de batatas fritas peculiares, em espiral, no palito, uma gostosura. Ainda no bairro (Notting Hill, do filme homônimo), o Recipease, do chef  Jamie Oliver, a Cookery School, numa cozinha aberta, central. Se disposto a enfrentar fila, os comes e bebes (e os merengues coloridos) justificam.

Aos domingos, o Hyde Park, no trecho perto do Marble Arch transforma-se no Speaker’s Corner, qualquer um em cima de um caixote pode fazer o discurso que quiser. Embora a maioria interprete como exercício de democracia, de liberdade de expressão parece que o costume remonta há séculos atrás quando prisioneiros sentenciados à morte proferiam suas últimas palavras antes de serem enforcados num patíbulo instalado nesse exato local. Já o Green Park, mesmo sem lagos e memoriais, é um agradável, tranquilo e seguro lugar, sem ruído algum, próprio para o descanso. 

Principais pontos turísticos: 
O Parlamento e seu relógio, o Big Ben, emblemático da cidade. 
A ponte sobre o rio Tâmisa. 
A Catedral de St Paul. 
A Abadia de Westminster (um colosso da arquitetura medieval inglesa, de tão grande, a gente se perde lá dentro, entre monumentos e túmulos que guardam despojos dos monarcas britânicos; o pátio interno é o único lugar onde é permitido fotografar). 
A Torre de Londres. 
A troca da guarda do Palácio de Buckingham, residência oficial da monarquia; aproveite para fotografar defronte ao belo Victoria Memorial. 
A Tate Modern Gallery (não deixe de ir tomar um café lá, a vista da Ponte do Milênio é esplêndida). 
O museu de cera Madame Tussauds. 
A National Portrait Gallery, com obras espetaculares, minhas preferidas são uma tela de James Joyce e um busto do pintor Lucien Freud, neto do psicanalista. 
London Eye (a roda-gigante). 
Covent Garden Market, um point. 
The Shard, o prédio mais alto de Londres, com suas galerias envidraçadas a 310 metros de altitude, proporciona uma incrível vista. 
Marisfield Garden, 20, um ilustre endereço, a casa onde Freud viveu e trabalhou depois que, foragido, deixou Viena ocupada pelos nazistas. 

Para quem, como eu, é apaixonado por museus, aqui está um dos mais deslumbrantes, o Britânico, fundado em 1753, com seu colossal acervo, preciosidades tais como a Rosetta Stone (a pedra a partir da qual Champollion traduziu os hieróglifos), a bíblia de Gutenberg (o primeiro livro impresso), a sala de leitura da Biblioteca (frequentada por Bernard Shaw, Lenin e outros notáveis) e vasta coleção de antiguidades gregas, egípcias e romanas (o espólio do império foi grande, até hoje fonte de atrito entre os governos que exigem a devolução das relíquias). 

Se a obra de arte há muito deixou de ser só objeto de contemplação para tornar-se também motor de inquietude, perco-me nesse redemoinho de imagens, deixo-me inundar por uma chuva de impressões que logo sulcam e fertilizam todo o meu ser, culminando numa verdadeira experiência estética de abandono e pacificação.

Last, but not least, o quesito compras. 
Na Cool Britannia, moletons e as mais diversas lembranças de viagem. 
Na Hamsley, a segunda maior loja de brinquedos do mundo, a gente volta a ser criança. 
Na Liberty, mais para apreciar o portento, construída com madeira de dois navios. 
E na Harrods, loja de departamentos com noventa mil metros quadrados de espaço de venda, cujo lema é Omnia Omnibus Ubique (todas as coisas, para todas as pessoas, em todo lugar) a gente se esquece da vida. Dizem que a primeira escada rolante apareceu aqui, em 1898, e os clientes eram esperados no topo com uma bebida, para acalmá-los; o Food Hall é uma atração à parte. 

Aliás, contrariando o estereótipo, a gastronomia da cidade muito tem a oferecer, além de fish&ships (Master’s Fish, simples e excelente) e chá das cinco (Fortnum&Mason, recomendo), típicas e deliciosas instituições inglesas.
Há vários restaurantes que não fazem feio: O Maze (do consagrado chef Gordon Ramsay).
Balthazar (idêntico ao de NY).
Burguer&Lobster.
Jamie’s Italian.
E ainda tem bons étnicos, sendo a comida indiana a mais popular entre as estrangeiras, talvez porque a Inglaterra seja a segunda pátria dos hindus. 

Em tempo: diversos entretenimentos noturnos estão à disposição do visitante: óperas, balés, sinfônicas, grandes espetáculos teatrais. De preferência, compre ingressos com antecedência. Por sorte, muita sorte, consegui assistir Os Miseráveis e o Fantasma da Ópera. Magníficos. 

Ana Guimarães



4 comentários:

  1. "De resto, em matéria quase que sem chamas, menciono a novidade da moda: riquixás ou jinriquixás. Isso. Aqueles vastos velocípides de origem chinesa ou japonesa fazendo concorrência aos famosos black cabs londrinos. É, aqueles mesmo. Os táxis pretões (epa! Cuida-te, boca!) que, em número de 25 mil, constituem, uma das marcas registradas da cidade." Ivan Lessa, no BBC

    Uma pequena chama arde em Londres, mesmo antes das chamas e que se chama : inovação. "Velocípedes" para transporte urbano e pintados com a cor amarela. Mesmo uma cidade tão tradicional, ou porque tradicional, se permite uma novidade como essa. Custe o que custar.
    Obrigado por nos lembrar do velho Dickens, entre outros, tão amoroso com a sua City. Beijos.

    ResponderExcluir
  2. Um dia estarei por lá, Ana.
    Para desfrutar destas beleza estéticas & culturais.
    Um belo roteiro narrado por mãos habilidosas.

    Beijão.

    Ricardo Mainieri

    ResponderExcluir
  3. Ana o titulo é ótimo e inda bem que voce visitou Londres antes das ditas chamas...deu para viajar nas tua narrativa e recordar o que li apenas em livros.... como seria maravilhoso mesmo estar la com todos estes escritores que voce citou como no Meia Noite em Paris...adorei...beijos

    ResponderExcluir
  4. Obrigada, meus amigos! É sempre uma alegria ver seus comentários aqui. Beijos
    Ana Guimarães

    ResponderExcluir